Pesquisa sobre autismo
  • Brasileiro lidera laboratórios na Califórnia (EUA)
  • O laboratório do Sanford Consortium, na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), é um dos mais (senão o mais) avançados laboratórios de neurociência do planeta, onde o neurocientista Alysson Muotri — um brasileiro, PhD, lidera um verdadeiro batalhão de pesquisadores na universidade. E lá tem sido realizado um trabalho na busca pela cura do autismo e de outras síndromes e doenças — de síndrome de Rett e mal de Parkinson até anorexia nervosa, zica e mal de Alzheimer. No mesmo prédio ficam vários laboratórios, integrados exatamente para promoverem a transdisciplinaridade entre os mais diversos campos de pesquisa, com três principais corredores onde em cada sala algo da nata da ciência está sendo pesquisado e a qualquer momento podem brotar importantes descobertas — como há poucos dias de lá descobriu-se que anorexia nervosa tem uma base genética e biológica passível de modulação farmacológica, o que abre caminho para se descobrir a causa e melhores tratamentos. No corredor central, os equipamentos mais pesados para facilitar a logística. O paulistano Alysson, que fundou, no ano passado a primeira startup de medicina personalizada do mundo, a Tismoo, voltada predominantemente a fazer análises genéticas de autistas, e acabou de lançar o livro “Espiral — Conversas Científicas do Século XXI”, pela editora Atheneu, também é pioneiro na criação de mini-cérebros em laboratório, o que inclusive foi usado para o primeiro estudo do mundo que confirmou a relação entre o zika vírus e a microcefalia, publicado na renomada “Nature”. Os mini-cérebros têm ajudado muito na busca por entender diversas síndromes e doenças, além do autismo, e tem ganhado destaque mundial na mídia.
 
  • EM BUSCA DA CURA
  • Numa essas salas, “doctor Muotri” há três importantes equipamentos. No primeiro deles, um multi-eletrodo, quando se coloca uma cultura de neurônios numa placa, pode-se ouvir (isso mesmo, ouvir!) a atividade elétrica dos neurônios em mini-cérebros. No segundo equipamento, um moderno microscópio eletrônico, é possível ver e quantificar as sinapses acontecendo, desde que se utilize de um marcador verde fluorescente, pois as sinapses, a olho nu, são invisíveis. E um terceiro “trambolho”, um microscópio para análise morfométrica, onde se pode analisar detalhadamente a anatomia de um neurônio, a ponto de se conseguir medir seus dendritos, ramificações e núcleo. Foram nesses equipamentos que o neurocientista viu, pela primeira vez, lá pelos idos de 2010, que os neurônios de pessoas com autismo tinham uma morfologia diferente e faziam menos sinapses. “O neurônio do autista, em geral, parece algo que não se desenvolveu completamente, ainda não amadureceu”, explicou Alysson. E, a partir de então, pode-se iniciar testes com drogas até que conseguiu reverter um neurônio em laboratório. Ele me contou essa história em detalhes na primeira vez que o entrevistei (leia, na íntegra, na Revista Autismo, edição de abril/2011).
 
  • E como anda essa busca pela cura do autismo?
  • Segundo o neurocientista, há estudos bem avançados usando a droga IGF1 (fator de crescimento de insulina), quase em fase final, com bons resultados para Síndrome de Rett e para alguns tipos de autismo — não todos!  Os testes com esta droga passaram pelo estágio um, está no segundo estágio e o neurocientista acredita que vá logo para o terceiro e último estágio “e a partir disso é a comercialização”, concluiu ele, que destacou ainda serem 3 ensaios clínicos acontecendo com o IGF1 e um deles é muito promissor, no qual uma empresa neozelandesa conseguiu reduzir o tamanho da molécula essencial da droga a ponto de fazê-la passar facilmente pela camada de proteção do cérebro, a hematoencefálica. “O IGF1 é um dos primeiros a chegar lá [na cura], mas mesmo assim a gente não sabe o que vai acontecer”, explicou ele sobre a incerteza a respeito do que poderia acontecer nessa “cura”, o que poderia efetivamente mudar no cérebro da pessoa com autismo após esse processo. “Mesmo que o IGF1 não seja a melhor resposta, ela nos mostrou o caminho a seguir, o que abre possibilidade para outras soluções”, analisou Alysson. Outras drogas também estão sendo testadas, algumas até mais promissoras que o IGF1, mas ainda falta financiamento suficiente para bancar essas pesquisas, que tem um complexo protocolo e envolve altos custos. Estamos falando em milhões de dólares. E quanto mais nova a droga, menos indústrias querem investir nessas pesquisas, pelo alto risco que representam. E algumas dessas drogas ainda precisam antes ser validadas, sob um complexo protocolo no FDA (Food and Drug Administration, agência que regula medicamentos nos Estados Unidos — no Brasil, seria algo próximo da nossa ANVISA). Para acilitar esse trabalho, eles têm testado drogas em recolocação — ou seja, que já foram aprovadas no FDA para outras doenças ou outros experimentos — para reduzir o tempo dos testes e “driblar" a burocracia de certa forma. Muito otimista e sempre entusiasmado com seu trabalho, Alysson Muotri demonstra-se esperançoso em conseguir resultados promissores em breve.
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