Habilidades Sociais
  • COMPREENDENDO AS HABILIDADES SOCIAIS
  • Natalie Brito Araripe
 
  • Tópicos:
  • • Habilidades sociais e o seu desenvolvimento no ensino de pessoas com atraso de desenvolvimento no contexto educacional.
  • • Caracterização dos déficits de habilidades sociais em pessoas com TEA.
  • • Intervenções em grupo para promoção de habilidades sociais.
  •  O que são habilidades sociais?
  • São comportamentos para os quais, dada uma determinada situação, predizem importantes efeitos sociais. Mas também podem ser definidas como regras e expectativas que nos permitem nos conectarmos com alguém, sermos quem somos e compartilharmos quem somos. Essas regras e expectativas estão em todo lugar. Facilmente as notamos quando alguém não as seguem e são o cerne do transtorno do espectro autista. Observamos dificuldades de habilidades sociais em todas as pessoas com Transtorno do Espectro Autista. Dentre as maiores dificuldades mais básicas podem estar:
  • • Poucos sorrisos.
  • • Imitação pobre.
  • • Pobre contato visual.
  • • Pobre atenção compartilhada.
  • • Pobre brincar recíproco.
  • • Pouco interesse em outras pessoas.
  • • Pouco interesse em outras crianças.
 
  • Algumas dificuldades em habilidades sociais mais complexas são:
  • • Dificuldade com interesses e conversar além dos interesses.
  • • Dificuldade em fazer e manter amizades.
  • • Dificuldade em entender comunicação não verbal.
  • • Dificuldade em entender regras sociais e convenções.
  • • Dificuldade em entender o sentimento do outro.
  • • Dificuldade de resolução de problemas.
  • • Dificuldade com flexibilidade.
 
  • O desenvolvimento de habilidades sociais leva ao sucesso social, que pode ser definido como a habilidade de conseguir o que deseja por meio de comportamentos apropriados e socialmente aceitáveis; compartilhar pensamentos, sentimentos e conhecimentos; participar de atividades sociais com o máximo de competência. A Análise do Comportamento Aplicada pode colaborar com o desenvolvimento de habilidades sociais, por meio de intervenção compreensiva (abrangente em diversas áreas e com extensa carga horária) ou focal nas habilidades sociais. Seja compreensiva ou focal, é importante delinear uma linha de base das habilidades do aprendiz, realizar análise funcional do comportamento, priorizar objetivos visando a aquisição de comportamentos socialmente relevantes e utilizar as estratégias de ensino evidenciadas na literatura como eficazes. Existem vários instrumentos de avaliação de habilidades sociais. Cabe destaque aqui a dois. Abordaremos brevemente o checklist do segundo instrumento para fornecermos uma visão geral da forma de avaliação nessa área. As autoras dividem as habilidades sociais em 10 módulos: atenção compartilhada, cumprimentos, brincadeira social, autoconhecimento, conversa, tomada de perspectiva, pensamento crítico, linguagem avançada, amizade e habilidades de comunidade. Para cada área elencada são fornecidos itens que devem ser avaliados de forma indireta e/ou direta. Para cada item, o terapeuta irá avaliar se o aprendiz faz ou não nas seguintes situações: 1:1, grupo e ambiente natural. Por exemplo: no modulo atenção compartilhada, um item é: “olha quando chamado”. O terapeuta deverá avaliar se o aprendiz olha na condição 1:1, se ele olha em grupo pequeno com outros pares e se olha quando está no recreio, na escola, por exemplo. Cada modulo é dividido em três níveis, ou três andaimes. Os níveis seguem o padrão de aprendizagem hierárquica cumulativa. Dessa forma, o terapeuta pode avaliar as habilidades relativas ao modulo 01 para os dez módulos.
 
  • Falaremos agora sobre uma habilidade social importantíssima: base para as outras HS: a atenção compartilhada. Para tanto, recomendamos a leitura da referência : Bacelar, F. T. N. S., & de Souza, C. B. A. (2014). Intervenções comportamentais no ensino de atenção conjunta para crianças com autismo: Uma revisão de literatura. Interação em Psicologia, 18(2). Começaremos com a definição de atenção compartilhada, para Schertz & Odorm: “É a atenção coordenada visualmente para um evento ou objeto com outro sujeito, compartilhando engajamento e interesse social e mostrando um interesse no qual o par está compartilhando o mesmo foco.” A atenção compartilhada é dividida entre Resposta de Atenção Compartilhada, ou RAC, e Iniciativa de Atenção Compartilhada (IAC). RAC é referente à capacidade do sujeito de responder às ofertas de atenção conjunta de outras pessoas e de seguir o foco atento dos outros. Já a iniciativa de atenção compartilhada (IAC) se refere à capacidade do sujeito do uso do olhar, gestos convencionais, e afetam para direcionar a atenção dos outros (Yoder & McDuffie, 2006) A atenção compartilhada é um pré-requisito para aquisição da linguagem, interação social, aprendizagem cultural e compartilhamento afetivo. Além disso, é uma habilidade pivotal (habilidades que quando fortalecidas resultam em mudanças positivas em outras áreas de funcionamento (Koegel et al., 1999). Alguns exemplos habilidades que pressupõem atenção compartilhada:
 
  • orientar-se para parceiro social,
  • focar em rosto,
  • tomada de turnos,
  • imitação,
  • rastreio visual entre pessoas e atividades,
  • gestos convencionais,
  • compartilhamento de interesse
  • coordenação entre atenção e afeto.
 
  • Para o trabalho específico das habilidades de atenção compartilhada, é necessário primeiramente avaliar as habilidades da criança nessa área. Alguns pontos fundamentais de avaliação são: A criança se atenta para o rosto de pessoas? Ela imita? Ela faz alternância de turno? Ela faz a coordenação do rastreio visual entre pessoas e eventos ou objetos? Algumas estratégias gerais de ensino envolvem o construir interações a partir dos interesses da criança, seguindo a sua motivação em atividades, realizando brincadeiras interacionais (sem mediação de instrumentos, apenas o face-a-face), incorporando onomatopéias, sons e ritmos, e modelando as iniciativas e as respostas de atenção compartilhada. Dentre as estratégias específicas para aumentar a frequência das respostas de RAC estão:
 
  • Prover dicas frequentes para compartilhar a atenção;
  • modelar respostas de atenção compartilhada;
  • seguir a motivação da criança, entrando na brincadeira dela;
  • reforçar diferencialmente as pequenas respostas de atenção compartilhada.
 
  • Já algumas estratégias específicas para facilitar a IACs, são: olhar para as iniciativas da criança, reforçando os seus comportamentos e provendo diálogos, narrações, sons, onomatopeias, dentro das suas iniciativas; fornecer ajuda para que ela inicie o episódio de atenção compartilhada, usando questões, por exemplo, como “o que você está vendo?”; fornecer ajuda para que a criança sustente a atenção compartilhada em episódio social. É importante recordar que essas estratégias são possibilidades de programas de ensino que devem ser individualizados em um planejamento. Elas não excluem os procedimentos de ensino (incidental, DTT, modelação, modelagem, reforçamento diferencial, encadeamento....) já vistos nas disciplinas anteriores e fundamentais para um ensino eficaz.
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