Como lidar em sala de aula com crianças que tem perda de audição?
 
  • Algumas dicas práticas podem ajudar ­ e muito ­ no dia a dia de pais e professores que lutam pela educação e inclusão de crianças com deficiência auditiva
  • Elaine de Sousa, EF (emfoco@centrinho.usp.br)
 
  • A primeira coisa que o leigo deve saber em relação à educação de crianças com perda auditiva é que existem orientações diferentes para professores de alunos surdos, que se utilizam da Libras (Língua Brasileira de Sinais) como meio de comunicação, e para professores de crianças com deficiência auditiva, que se comunicam pela linguagem oral graças ao suporte de dispositivos eletrônicos como os aparelhos de amplificação sonora individual e o implante coclear (o chamado ouvido biônico, ler boxe ao lado).
 
  • A equipe do Hospital Centrinho-USP, em parceria com a Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformidades Crânio-Faciais (Funcraf), ministra há 16 anos cursos de capacitação para os dois perfis de professores.
  • No caso das crianças com surdez que se comunicam apenas pela Libras é indispensável a presença do intérprete em sala de aula. Há ainda casos em que a criança com deficiência auditiva não conhece nem a Libras nem foi beneficiada por um programa de reabilitação.
  • Nesses casos, a criança é encaminhada para algum recurso na comunidade que possa ajudá-la a se comunicar, paralelamente ao trabalho desenvolvido no ensino regular. E o professor terá de lançar mão de todos os recursos visuais, dando maior atenção a este aluno e tentando se comunicar com ele por meio de gestos convencionais ou mímicas para garantir a compreensão do conteúdo escolar.
  • Na empreitada da educação inclusiva, a participação da família também é fundamental. Aos pais cabe o papel de acompanhar o desenvolvimento da criança e dar constantes respostas aos professores no sentido de esclarecer as necessidades do filho e apresentar caminhos ao educador, afinal para ele esta também pode ser uma situação nova e desafiadora. Nesta jornada, pais e professores passam a ser parceiros na meta de educar aquela criança que apresenta diferenças linguísticas em virtude do distúrbio auditivo. É claro que isso dificulta o acesso aos conteúdos escolares de forma igualitária em relação aos demais alunos que desenvolveram a linguagem oral de forma natural, na convivência com outras crianças ou com adultos.
  • Vamos relembrar que a forma usual de comunicação é a língua oral. Justamente a forma que se apresenta como maior desafio para essa parcela de alunos. Ao ingressar na escola, as crianças com  deficiência auditiva  podem trazer consigo a formação de conceitos espontâneos, fragmentados, ligados à sua convivência na vida diária. Sob a mediação do professor, esses conceitos poderão ser ampliados com a introdução dos conhecimentos formais. E, em casa, os pais poderão contribuir para que esses conhecimentos sejam apreendidos e exercitados.
  • Neste contexto, fica para o professor a responsabilidade de fazer flexibilizações curriculares, sem diferenciar os alunos com deficiência auditiva dos demais alunos, e mudar as estratégias em sala de aula para que o aluno possa se desenvolver apesar das limitações impostas pela deficiência.
 
  • Vivências diárias
  • Explorar as vivências da criança com deficiência auditiva para ensinar novos conceitos e ideias é uma ótima estratégia para o aprendizado das crianças em qualquer situação, especialmente no caso daquelas que têm deficiência auditiva. Isso justamente porque o trabalho pedagógico apropriado deve ter como ponto de partida os conhecimentos que o aluno já possui para que possam ser ampliados e que novos conhecimentos sejam construídos. No caso específico dessas crianças, o professor precisa estar atento ao que possui significado na vida delas. Usar exemplos como o trajeto do ônibus ou o troco de uma negociação no supermercado são recursos que enriquecem as explicações porque fazem associação com o que significa algo para o aluno.
  • Essa prática é cotidiana entre a equipe do Cedau (Centro Educacional do Deficiente Autidivo), unidade do Centrinho-USP que atua com essas crianças no horário contrário ao do ensino regular. Datas festivas, passeios, acontecimentos familiares, tudo é motivo para a equipe desenvolver atividades pedagógicas e adicionar conhecimento ao dia a dia da criança com perda auditiva.
  • É importante esclarecer aos demais alunos da classe sobre a deficiência auditiva e as necessidades específicas da criança. Fale com eles sobre o assunto e responda as suas curiosidades iniciais.
  • É preciso antes de tudo tratar a criança com deficiência auditiva como uma criança. Elogie suas qualidades e atributos e chame sua atenção quando necessário.
  • Quando não compreender o aluno, o professor precisa demonstrar isso. É melhor do que “fazer que entendeu”. Ao mesmo tempo, é preciso demonstrar muita vontade de compreendê-lo. Com esta atitude a criança será estimulada a buscar formas mais eficazes para se fazer entender.
  • Estimule e incentive as iniciativas de interação entre a criança com deficiência auditiva e seus colegas de classe.
  • A criança com deficiência auditiva não deve ser cercada de privilégios. O que pode para ela pode para todos. A intenção deve ser promovê-la perante o grupo através dos acontecimentos naturais e rotineiros do ambiente escolar, que explorados corretamente, aumentarão as oportunidades de integração entre todos os alunos.
  • Os professores devem trabalhar em equipe e de forma sintonizada com o professor do atendimento educacional especializado (obrigatório no ensino regular para garantir a igualdade de oportunidades por meio do acesso ao currículo e do reconhecimento das diferenças do processo educacional) que atua na sala de recursos multifuncionais.
  • fonte - www.centrinho.usp.br
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