Deficiência Visual e Deficiência Múltipla.
Olá colegas,

Tenho alguns materiais para pessoa com deficiência múltipla e surdocegueira, são artigos que estarei repassando aos poucos que certamente serão importantes para estudos, acervo e aplicação.

Utilizando Cor e Contraste para modificar o ambiente educacional de alunos com deficiência visual e deficiência múltipla.

(GELHAUS, M. M.& OLSON, M.R. 2003)

Resumo: Todo o aluno com deficiência visual precisa de um ambiente que seja o “menos restritivo possível”. Para os alunos com deficiência visual e múltipla deficiência, a utilização de cor e contraste pode ressaltar o seu ambiente de aprendizado. Este artigo oferece sugestões funcionais de ensino para as áreas de alimentação e preparo de alimentos, banho, cuidados pessoais, vestir-se e mobilidade.

Além dos benefícios óbvios estudos indicam que crianças novas de até 10 anos têm a capacidade de fortalecer os processos neurológicos que são responsáveis pela visão. Axons e dendritos na retina podem ganhar uma melhora na resposta fisiológica e os processos cerebrais podem se reestruturar para tomar posse de células que não foram originalmente designadas para serem células visuais (Fellows, Leguire, Rogers & Bremer, 1986). Portanto como prestadores de serviço é nossa responsabilidade moral prover um ambiente educacional visualmente estimulante e otimizado para todos os alunos com deficiência visual começando no nascimento. Este artigo assume que o componente fisiológico foi otimamente tratado e lida somente com a alteração e controle do ambiente visual.

Uma quantidade extensiva de materiais tem sido desenvolvida para modificar o currículo acadêmico padrão para os alunos deficientes visuais, mas não para os deficientes visuais com múltipla deficiência. O aprendizado parece ser melhor facilitado quando as áreas alvo são naturais e ensinadas no ambiente funcional do que quando ensinado em unidades isoladas e em atividades artificialmente programadas (Snell, 1988). Este artigo define dimensões de cor e contraste nos ambientes naturais e discute como eles podem ser utilizados para maximizar a performance do aluno com múltipla deficiência nas áreas do currículo funcional como alimentação e preparo do alimento, banho, cuidados pessoais, vestir-se e mobilidade.

Cor e contraste

Cor

No ambiente educacional a cor pode ser utilizada para ajudar “a impedir os efeitos contrários da privação sensorial, promover fortalecimento do humor e serve como um meio de pistas e de códigos” (Cooper, 1985, p.253). Cor inclui matiz, saturação e brilho (Corn, 1983). Matiz é o atributo da sensação de cor, incluindo vermelho, verde e azul (Cline, Hofstetter & Griffin, 1980). Indivíduos com visão de cor deficiente não são capazes de distinguir objetos com base só na cor (Adams & Haegerstom- Portnoy, 1987).

Cline et al. (1980) definiu saturação como a qualidade de percepção visual que permite o julgamento de diferentes purezas de qualquer comprimento de onda dominante. Ela é a quantidade de preto, branco ou cinza (claro ou escuro) dentro de um matiz de cor. Conforme a teoria de funcionamento visual, os pastéis das cores primárias como rosa, azul claro, ou verde água são menos distinguíveis do que outros matizes mais claros das cores primárias. Do mesmo modo, tonalidades mais profundas das cores primárias como verde escuro ou azul marinho, também são difíceis de distinguir. Entretanto, como a diferença na saturação da cor aumenta entre dois objetos visuais, isto torna mais fácil a diferenciação dos objetos visualmente.

Brilho é um atributo subjetivo de qualquer sensação crescente da percepção da intensidade de iluminação, incluindo toda a escala sendo brilhante, claro, fraco ou escuro (Cline et al., 1980). Quanto mais intensa é a claridade da cor mais a retina é estimulada. A luminosidade da cor também deve ser levada em consideração; entretanto, como generalização, quanto mais viva for a cor do objeto, mais visível ele é.

Contraste

Outra importante dimensão da do ambiente visual do aluno é o contraste que ele oferece. Ao discutirmos contaste pode-se assumir que uma pessoa deficiente visual pode ver os objetos no espaço e que existe suficiente iluminação para tornar possível que o sistema visual funcione. McGillivray (1984) descreveu dois principais tipos de contraste. O primeiro tipo é o contraste de luminosidade (por exemplo, cores em negrito ou em preto em um signo em branco ou um prato azul escuro sobre uma toalha de mesa marfim). O contraste de luminosidade depende da diference de brilho da cor dos dois objetos. O segundo contraste é produzido pela quantidade de luz refletida em diferentes áreas de uma mesma superfície. Um canto da parede pode se destacar por causa de como a luz vai atingir um lado diferentemente do outro, fazendo com que um seja mais claro do que o outro.

Adaptações funcionais no ambiente visual 

O fortalecimento do contraste no ambiente pode permitir que indivíduos com deficiências sensoriais realizem mais habilidades de auto-ajuda. Conforme as pessoas com deficiências severas profundas aprendem mais dessas habilidades sua auto-estima cresce e eles se tornam menos dependentes dos cuidadores (Reese & Snell, 1991).

Ao se tentar modificar o ambiente visual do aluno deve-se fazer melhorias práticas, simples e econômicas (Sicurella, 1977). Planejamento a longo prazo é geralmente mais vantajoso.

Alimentação e preparo dos alimentos

Ao alimentar uma criança com múltipla deficiência seu interlocutor deveria ter consciência da roupa que está utilizando. O tecido deveria ser o mais sem detalhes e se possível, deveria contrastar com a comida. A louça deveria ser livre de detalhes. Se o aluno tiver uma imperfeição neurológica ou dificuldade de se às coisas, a comida deveria ser oferecida vagarosamente de modo que o aluno possa aprender a antecipar visualmente as ações do interlocutor. Para alunos com acuidade reduzida sentar-se de frente para uma luz difusa pode fornecer uma sombra contornando a comida que está sendo apresentada, ou uma luz incandescente pode ser direcionada no interlocutor e na comida. Contraste de cor deveria ser mantido entre a superfície e os utensílios por meio da modificação da área de alimentação utilizando o papel contact colorido, jogos americanos, toalhas de mesa e a superfície da mesa.

A comida pode ser preparada mais eficientemente tendo fundos claros ou escuros para despejar os líquidos, cortar em pedacinhos, misturar e cozinhar. È útil que as maçanetas dos armários da cozinha, os interruptores, as tomadas sejam contrastantes. Fitas adesivas fluorescentes ou marcas em alto relevo grudadas nos teclados, medidores, etc, podem tornar as atividades na cozinha mais fáceis. Um conjunto de lâmpadas incandescentes acima da bancada de trabalho ajuda a iluminar as áreas de trabalho que ficam com sombra embaixo dos armários.

Banho

Móveis contrastantes são úteis, mas são frequentemente impraticáveis ou difíceis de instalar. Sabonete, shampoo, condicionadores de cabelo ou outras embalagens de plástico podem ser adquiridos com cores contrastantes ou facilmente marcados com fitas adesivas refletivas. A fita adesiva refletiva também pode ser usada na banheira para marcar onde a saboneteira está ou onde ela deveria ficar. Toalhas de banho e de rosto com cores contrastantes podem ser compradas conforme forem se desgastando. Quando a iluminação na área de banho é pobre, fontes de luz portáteis deveriam ser exploradas com a segurança como prioridade máxima.

Cuidados pessoais

Os itens para cuidado pessoal que estão em constante uso deveriam ser separados daqueles que não se usa com freqüência. Quando possível esses itens utilizados com maior freqüência deveriam ser colocados em compartimentos ou áreas especialmente marcadas. Cestinhas baratas, caixinhas ou outros organizadores de plástico permitem que o aluno utilize o contraste para “organizar” o ambiente. Forrar as gavetas com contact de cores sólidas pode ser mais funcional para a visão.

Se um espelho for ser utilizado, prover um fundo de cor sólida para contrastar com o cabelo do aluno pode ser prestativo, mas nem sempre é estruturalmente prático. O rack das toalhas colocado em um apropriado pode oferecer contraste. Quando possível, a iluminação deveria ser mantida plana. Com todos os itens refletivos nos banheiros todos os esforços deveriam ser tomados para criar um sistema de iluminação onde haja o menor ofuscamento possível. Um interruptor do tipo dimer pode ajudar no banheiro.

Vestir-se

O uso de ambas as pistas táteis e visuais é prestativo. Apetrechos que melhoram a organização do closet são úteis e colocar uma fonte de luz dentro dos mesmos aumenta o contraste. Para crianças pode-se colocar figuras ou símbolos táteis em cada gaveta para representar o conteúdo das mesmas.

Mobilidade

Mobílias que contrastam com a parede e o chão são mais fáceis de serem evitadas pelos alunos. Quando for adquiri-las peças com cantos pontudos deveriam ser evitadas. Os batentes das portas contrastando com as paredes são mais fáceis de ver e adesivos ou material refletivo nas costas ou nos braços das cadeiras tornam as mesmas mais acessíveis visualmente. As cadeiras deveriam sempre estar juntas às mesas e as portas dos armários sempre fechadas. Mudanças no arranjo de uma sala deveriam sempre ser verbalmente anunciadas, e deveria ser permitido ao aluno explorar o “novo” ambiente. Manter os corredores e as áreas “escuras” bem iluminadas evita a dificuldade de ir de uma área mais clara para uma mais escura.

As paredes da escada que são mais claras que os corrimãos fazem a viagem mais segura. As escadas que são iluminadas desde o topo fazem uma boa sombra que contrastam quando a pessoa sobe.

Conclusão

O ambiente visual de uma pessoa deficiente visual com múltipla deficiência deveria ser realçado. Para as crianças pequenas, ao se fazer isto, pode-se fortalecer o processamento neurológico da visão. Em todos os alunos este processo pode conter pistas e dar pistas visuais para um mundo embaçado devido á privação sensorial.

Um entendimento do ambiente visual pode sensibilizar todos aqueles que oferecem serviços para as necessidades únicas dos alunos com deficiência sensorial. As aplicações funcionais deveriam ser vistas como sugestões que levam mentes criativas e habilidosas a modificações adicionais.

fonte:

Programa Hilton Perkins da Escola Perkins para cegos, WATERTOWN, MASS. U.S.A. O Programa Hilton Perkins é subvencionado por uma doação da Lavelle” Título original: Using color and contrast to modify the educational environment for the students with impairment and multiple disabilities (M.M. Gellhaus; M.R. Olson 2003;) Titulo traduzido: Utilizando cor e contraste para modificar o ambiente educacional de alunos com deficiência visual e deficiência múltipla. Tradução: Laura Lebre Monteiro Anccilloto /2007 – Revisão: Lilia Giacomini/2009 Revisão atualizada Shirley rodrigues Maia 2013.

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